Rastos, presenças e memórias de Francisco Camacho e da Nova Dança Portuguesa no Museu Nacional do Teatro e da Dança

O Museu Nacional do Teatro e da Dança inaugurou em Dezembro do ano passado uma exposição comemorativa dos 40 anos de carreira de Francisco Camacho, que pode ser visitada até Maio. Francisco Camacho 1982/2022 À Volta da Dança: Rastos e Presenças é uma exposição simbólica, mas ilustrativa do percurso de um dos protagonistas do movimento da Nova Dança Portuguesa.

No passado Sábado, dia 4 de Março, Sérgio Pelágio, colaborador de longa data, companheiro de viagem (essa que é a dança e o seu processo criativo) de Francisco Camacho, vestiu o papel de guia desta exposição, da perspectiva de quem compôs muitas das músicas para os trabalhos coreográficos de Camacho, uma colaboração com mais de 30 anos.

Sérgio Pelágio conheceu Francisco Camacho em Nova Iorque no final dos anos 1980. Estamos num período de grande efervescência criativa, ainda no rescaldo da revolução dos cravos, e onde Francisco Camacho, assim como tantos outros criativos da dança, como João Fiadeiro, Rui Horta ou Vera Mantero, viajam até Nova Iorque, onde investem na sua formação e guardam uma grande bagagem criativa que viria a marcar os seus percursos até aos dias de hoje.

Sérgio Pelágio chega a Nova Iorque no momento em que Francisco Camacho de lá regressa para Lisboa. Camacho estudou no Merce Cunningham Dance Studio e no Lee Strasberg Theatre Institute. Pelágio queria estudar música, Jazz, e procurava fazê-lo com John Abercrombie, com quem acaba por se cruzar.

Deste encontro viria a resultar uma colaboração de longa data, até aos dias de hoje. Compõe a música para Desperdícios, a primeira obra coreográfica de Francisco Camacho; Primeiro Nome: Le (1994, prémio ACARTE/Maria Madalena de Azeredo Perdigão 1994/95) é das primeiras peças para as quais compõe em casa, já na revolução da internet e do computador portátil, onde explora o trabalho com samples (nomeadamente de uma música de David Bowie, que autoriza o seu uso), segue-se Gust (1997), Lost Ride (2011), Andiamo! (2013), VELHⒶS (2019), entre tantas outras.

Neste momento, Pelágio está a trabalhar sobre a música original de Gust (1997), cuja remontagem será apresentada em Setembro deste ano, precisamente nos espaços onde estreou originalmente: o Teatro Rivoli, no Porto, e o Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Esta revisitação terá o nome Gust9723 e contará ainda com alguns intérpretes da montagem original. Dirigida por Francisco Camacho e com dramaturgia de André Lepecki, Gust é inspirada pela fotografia “A Sudden Gust of Wind” (‘Uma Súbita Rajada de Vento’) de Jeff Wall. Considerada uma das obras mais emblemáticas de Francisco Camacho, foi criada num processo colaborativo que envolveu um grupo internacional de 14 intérpretes. Segundo a EIRA, estrutura artística criada pelo próprio, em Gust9723 procura-se “uma renovada vontade de oferecer um (outro) futuro” a esta peça.

“Se as colaborações pontuais foram fundamentais no meu percurso, as cumplicidades prolongadas permitem o aprofundamento em novas rotas e no alcance de objectivos. É o caso do Sérgio Pelágio, que já lá estava em 1988, na primeira incursão na coreografia (em colaboração com Filipa Pais e José Laginha). É um momento feliz ter o Sérgio a conduzir uma visita guiada a esta exposição “1982/2022 – À Volta da Dança: Rastos e Presenças”, pois ele é uma das pessoas que não só tem acompanhado mais de perto a minha prática artística, como tem sido um participante nela determinante. Esta cumplicidade conhece este ano uma nova modalidade com a aventura de “Gust9723”, a remontagem da peça de 1997, para a qual compôs a música, e para a qual já estamos a trabalhar. Obrigado, Sérgio!”, escreve Francisco Camacho no Instagram da EIRA.

Sérgio Pelágio nasceu em Lisboa e iniciou os seus estudos musicais em guitarra clássica com 12 anos de idade. Mais tarde, descobriu o jazz e a música improvisada e tocou, entre outros, com David Liebman, Andy Sheppard, Graham Haynes, Frank Lacy, Norma Winston, John Abercrombie, Sylvia Cuenca, Mário Franco, Bernardo Sassetti e Mário Laginha, com quem gravou o CD Hoje (1994, Farol Música Lda). Trabalhou como compositor para os coreógrafos Paulo Ribeiro, Paula Massano, João Galante, Teresa Prima, Vera Mantero, Francisco Camacho e Sílvia Real. Em 1998, fundou com Sílvia Real as Produções Real Pelágio, dupla responsável pela criação da trilogia Casio ToneSubtone e Tritone. O seu trabalho foi apresentado em Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda, Eslovénia, Reino Unido, Irlanda, Hungria e EUA. Em 2002 editou Bandas Sonoras para peças de Francisco Camacho e Vera Mantero 1993-97 (2002, Miso Records). A sua música integrou filmes de Rita Nunes, Paulo Abreu e Bruno de Almeida. (bio completa aqui)

Estão previstas mais visitas guiadas e outras iniciativas com personalidades que têm colaborado com Francisco Camacho, nomeadamente o realizador Bruno de Almeida e o curador de arte, escritor e dramaturgo André Lepecki, em datas a anunciar. É ficar atento/a ao Instagram do Museu Nacional do Teatro e da Dança e da EIRA.

Francisco Camacho 1982/2022 À Volta da Dança: Rastos e Presenças

Dezembro 2022 — Maio 2023

Museu Nacional do Teatro e da Dança
Terça a domingo das 10h às 13h e das 14h às 18h (últimas entradas às 12h30 e às 17h30)
Estrada do Lumiar, 10, 1600-495 Lisboa
(+351) 21 756 74 10/19
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