Em japonês, “Hakanaï” define o efémero, o fugaz e evanescente, algo que está entre o sonho e aquilo que é concreto. Hakanaï, de Claire Bardainne e Adrien Mondot transporta-nos para esse limbo entre o tudo e o nada.

O Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) é encolhido por uma escuridão densa; estamos envolvidos numa atmosfera onírica e, no centro, encontramos um cubo, rodeado por cadeiras onde os espectadores se sentam. Surge então Akiko Kajihara, que começa por andar à volta e logo interage com projecções digitais, entre números e letras, grelhas e listas. Por momentos, estamos todos sozinhos naquela sala, imergidos numa experiência sensorial que nos faz acreditar que as projecções são realidade ou que a bailarina é digital.
Em Hakanaï, «a experiência humana está no centro das questões tecnológicas» (na folha de sala) – e a inovação tecnológica está no centro de um debate cada vez mais alargado sobre as múltiplas possibilidades de se trabalhar o corpo performático e a sua plasticidade. Veja-se outros exemplos por esse mundo fora, desde o britânico Michael Clark (com, por exemplo, to a simple, rock n’roll… song), o francês Philippe Decouflé (veja-se, por exemplo, Octopus), a companhia portuguesa Vortice Dance Company (em, por exemplo, Home 2.0), a companhia australiana Chunky Move, a bailarina japonesa Yoko Ando, entre tantos outros que certamente me escaparão.

A Companhia Adrien M. & Claire B., que nasceu em 2004, cria instalações e performances que exploram a relação realidade/virtualidade, sendo o ser humano e o seu corpo o foco constante da sua investigação.
Claire Bardainne é uma artista visual, designer gráfica e cenógrafa. Já Adrien Mondot é um artista multidisciplinar, da área de computação, e malabarista. Juntos, criam nesta peça uma experiência visual que ecoa de forma crescente desde aquele ponto central até ao resto da sala. Com um sensor sobre o cubo, que segue os seus movimentos, fazendo com que as projecções respondam aos mesmos, Kajihara mostra-nos as infinitas possibilidades de um corpo que comunica com o mundo. Se ela sobe, as riscas sobem, se ela desliza, também as projecções o fazem. Até que guarda na mão todo aquele cubo em movimento e volta a soltá-lo em projecções ora frenéticas ora suspensas.

Hakanaï explora a natureza fugaz dos sonhos e a efemeridade da vida real. Se por um lado nos transporta para uma atmosfera inebriante (provocada pelas projecções mas também pela interpretação sonora de Clément Aubry), por outro lado não nos sacia a vontade de ver mais, não fosse o próprio mundo uma complexidade de realidades sonhadas ou de sonhos tornados realidade. Mas a efemeridade não se fica apenas pelo conceito por detrás do espectáculo.
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Hakanaï
Espetáculo de dança e artes visuais + tecnologia interativa/performance bailada
Concepção, direcção artística, cenografia e encenação Claire Bardainne e Adrien Mondot
Design sistemas informáticos Adrien Mondot
Dança Akiko Kajihara
Interpretação digital Christophe Sartori
Design espaço sonoro Christophe Sartori, Loïs Drouglazet
Interpretação sonora Clément Aubry
Design cenográfico Martin Gautron, Vincent Perreux
Dispositivos informáticos Loïs Drouglazet
Desenho de luz Jérémy Chartier
Apoio artístico exterior Charlotte Farcet
Guarda-roupa Johanna Elalouf
Direcção técnica Alexis Bergeron
Administração Marek Vuiton
Produção e divulgação Joanna Rieussec
Produção executiva Margaux Fritsch, Delphine Teypaz
Distribuição em Espanha e Portugal Ana Sala (IKEBANAH Artes Escénicas)
Produção Adrien M & Claire B
Co-produtores Les Subsistances, Lyon / Centre Pompidou – Metz Accompagnement à la production et résidence de creation / Ferme du Buisson, scène nationale de Marne-la-Vallée / Région Rhône-Alpes Fonds [SCAN] / Atelier Arts-Sciences, Grenoble / Les Champs Libres, Rennes / Centre des Arts, Enghien-les-Bains
Co-financiado pelo programa «Lille, Ville d’Arts du Futur» visando desenvolver a experimentação de misturas entre as artes e as inovações tecnológicas.
Artistas em residência no Centre de Création et de Production de la Maison de la Culture de Nevers et de la Nièvre (MCNN)
Micro Mondes, Lyon
Colaboração Ministère de la Culture et de la Communication DICRéAM
A Companhia Adrien M & Claire B é subsidiada pela DRAC Auvergne-Rhône-Alpes, pela Região Auvergne-Rhône-Alpes e pela Cidade de Lyon.
Fotografia de capa: ©Romain Etienne