«Octopus», de Philippe Decouflé, CCB

Originalmente publicado em arte-factos.net, a 24 de Março de 2012.

Octopus
fonte: http://www.cie-dca.com

My girl my girl, don’t lie to me, tell me where did you sleep last night

(Lead Belly)

“O espectáculo já começou?” pergunta a senhora sentada ao meu lado, quando, ainda de luzes acesas, já está no palco um bailarino, Alexandre Castres, sentado a olhar para nós, público. Os seus braços ganham vida própria e, numa luta entre si, projectam todo o corpo, arrastam-no pelo palco, ao som de um burburinho e algumas gargalhadas vindos da plateia.

Este é o cenário: dois músicos, um de cada lado do palco, rodeados de instrumentos; as luzes a apagarem-se gradualmente; o som da voz clara de Labyala Nosfell e do violoncelo de Pierre Le Bourgeois. Entra Aude Auffret, metade homem, metade mulher, qual dança metabólica que compõe dois em  um, como que em uníssono.

Movimentos e palavras que se desacorrentam, mostrando as coisas tal como elas são, preto no branco. Literalmente, preto no branco. Sem categorizações, em oposição ao exercício da conceptualização levada ao extremo – a metafísica, a metamulher, ametacoxa, a metaluxúria. Hermétiquement Ouverte, de Ghérasim Luca, declamado convenientemente, com uma fúria final e uma boa dose de ousadia. Tudo neste espectáculo transcende o óbvio. O corpo. Todos os recantos do corpo: as mãos, os pés, as pernas, a cabeça, a língua – todos eles se entrelaçam, se fundem ao som de uma melodia que se estende do lírico ao rock.

Philippe Decouflé leva ao Centro Cultural de Belém uma composição coreográfica irreverente – como lhe é muito próprio – provocadora e de uma sensualidade indescritível. Devolve-nos o nosso lado animal e animalesco – o contorno do corpo, a semi-nudez, toda a carga erótica do corpo humano, pela qual diz ser fascinado, está impregnada em cada movimento, em cada bounce, em cada respiração sonora.

Desde o duo cru e apaixonante de Sean Patrick Mombruno e Aude Auffret, ao grandioso polvo humano, passando pelo desfile em saltos altos de todos os bailarinos e, evidentemente, pela interacção coreografia-luzes e vídeo que projecta em palco um gigantesco caleidoscópio humano, o espectáculo revela uma expressividade verdadeiramente inspiradora.

Octopus, o polvo, os oito bailarinos, comprimem-se e distendem-se, confundem-se e camuflam-se numa composição coesa, na sua diversidade coreográfica. Octopus, o polvo, os oito bailarinos, comprimem-se e distendem-se, confundem-se e camuflam-se. Octopus, o polvo, os oito bailarinos, comprimem-se e distendem-se. Octopus, o polvo, os oito bailarinos.

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